quinta-feira, 18 de agosto de 2011

PAULO FREIRE CONSCIENTIZAÇÃO TEORIA E PRÁTICA DA LIBERTAÇÃO




CURSO DE FORMAÇÃO ESPECIAL
DISCIPLINA: Gestão do Sistema Educacional
PROFESSOR(A): MARIA GEISA MORAIS LINS
Aluna – Maria Ângela Afonso Pereira


PAULO FREIRE
CONSCIENTIZAÇÃO
TEORIA E PRÁTICA DA LIBERTAÇÃO
UMA INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO DE PAULO FRERE
SÃO PAULO - ED. CORTEZ & MORAES LTDA, 1979
Paulo Freire: conscientização: teoria e prática da libertação


INTRODUÇÃO
Peço licença para iniciar colocando um poema que recitei no seminário que participei sobre Paulo Freire quando eu era estudante de Pedagogia em 1984.
A meu ver o poema diz tudo sobre o autor e essa obra magnífica.


CANÇÃO PARA OS FONEMAS DA ALEGRIA
(Thiago de Mello)

Peço licença para algumas coisas.
Primeiramente para desfraldar este canto de amor publicamente.
Sucede que só sei dizer amor quando reparto o ramo azul de estrelas que em meu peito floresce de menino.
Peço licença para soletrar,no alfabeto do sol pernambucano,
a palavra ti-jo-lo, por exemplo,e poder ver que dentro dela
vivem paredes, aconchegos e janelas,
e descobrir que todos os fonemas são mágicos sinais que vão se abrindo:
constelação de girassóis gerando em círculos de amor
que de repente estalam como flor no chão da casa.
Às vezes nem há casa: é só o chão.
Mas sobre o chão quem reina agora é um homem diferente,
que acaba de nascer:
porque unindo pedaços de palavras
aos poucos vai unindo argila e orvalho,tristeza e pão, cambão e beija-flor,
e acaba por unir a própria vida no seu peito partida e repartida
quando afinal descobre num clarão
que o mundo é seu também,
que o seu trabalho não é a pena que paga por ser homem,
mas um modo de amar e de ajudar o mundo a ser melhor.
Peço licença para avisar que, ao gosto de Jesus,este homem renascido é um homem novo:
ele atravessa os campos espalhando a boa-nova,
e chama os companheiros a pelejar no limpo, fronte a fronte,contra o bicho de quatrocentos anos, mas cujo fel espesso não resiste a quarenta horas de total ternura.
Peço licença para terminar soletrando a canção de rebeldia que existe nos fonemas da alegria:
canção de amor geral que eu vi crescer nos olhos do homem que aprendeu a ler.
Santiago do Chile,verão de 1964.

TRANSCRIÇÕES DO AUTOR.

[...] a educação, como prática da liberdade, é um ato de conhecimento, uma aproximação crítica da realidade. p. 25
De imediato a realidade não se dá aos homens como objeto do conhecimento por seu pensamento crítico. Inicialmente a idéia normal que o homem tem do mundo, é uma idéia ingênua e não crítica. Esta espontaneidade aproxima o homem da realidade e tem a idéia da experiência da realidade na qual ele procura. p. 26
A atividade prática, a ação, o exercício, a conscientização não pode existir sem a ação-reflexão. Esta discussão é uma unidade permanente e faz parte do modo de ser ou de transformar o mundo que caracteriza os homens. Por isso, a conscientização é um compromisso, uma consciência histórica: implica nos homens assumirem o papel de sujeitos que constroem o mundo e sua existência com um material que a vida lhes oferece. p. 26
Essa conscientização, como atitude crítica dos homens na história, é um processo interminável. Os homens, seres atuantes, não podem aceitar um mundo “feito”, para não serem submersos numa nova obscuridade. p. 27
[...] o processo de alfabetização política – como o processo linguístico – pode ser uma prática para a “domesticação dos homens”, ou uma prática para sua libertação. [...] Daí uma ação desumanizante, de um lado, e um esforço de humanização, de outro. p. 27
A conscientização nos chama para assumir uma posição utópica frente ao mundo, posição esta que converte o conscientizado em “fator utópico”. O utópico é realizável, não é idealismo, é o ato de denunciar a estrutura desumanizante e anunciar a estrutura humanizante. Assim a utopia é um compromisso. p. 27
A utopia é um conhecimento crítico, pois para denunciar a estrutura desumanizante é preciso conhecê-la. Não posso anunciar o que não conheço. O anúncio de um anteprojeto é, na prática, o anteprojeto que se torna projeto. Atuando que posso transformar anteprojeto em projeto, por meio da práxis e não por meio do blábláblá. p. 28
Entre o anteprojeto e o momento da realização ou da concretização, há um tempo histórico que devemos criar e fazer; é o tempo das transformações que devemos realizar; é o tempo do meu compromisso histórico. [...] Somente podem ser proféticos os que anunciam e denunciam, comprometidos permanentemente num processo radical de transformação do mundo, para que os homens possam ser mais. Os homens reacionários, opressores não podem ser utópicos nem ser proféticos e, portanto, não podem ter esperança. p. 28
Os homens se encontram submersos em condições espaço-temporais que influem neles e que eles igualmente influem. [...] Refletirão sobre seu caráter de seres situados, na medida em que sejam desafiados a atuar. Quanto mais refletirem de maneira crítica sobre sua existência e atuarem sobre ela, serão mais homens. p. 33
[...] A resposta que o homem dá a um desafio não muda só a realidade com a qual se confronta: a resposta muda o próprio homem, cada vez um pouco mais, e sempre de modo diferente. [...] pela ação e na ação, é que o homem se constrói como homem. p. 37

PRÁTICA DA LIBERTAÇÃO
No inicio, ao invés de lutar pela liberdade, os oprimidos tendem a converter-se em opressores. As contradições da situação existencial concreta os manipula. Seu ideal é ser homem opressor: seu modelo de humanidade. Esta idéia vem de que os oprimidos, num certo tempo, adota uma atitude de “adesão” em relação ao opressor sendo impossível “vê-lo” com lucidez para objetivá-lo, para descobri-lo “fora de si mesmos”. p. 57-58
Os oprimidos, alienados querem parecer-se com o opressor, imitá-lo, segui-lo. (fenômeno comum, sobretudo nos oprimidos de classe média), que aspiram igualar-se aos homens “eminentes” da classe superior. O oprimido despreza e gosta de seu colonizador. p. 60
Outra característica do oprimido é o desprezo por si, que vem da interiorização da opinião dos opressores sobre ele. Acostumados a ouvir que não servem para nada, não podem aprender, são débeis, preguiçosos e improdutivos que acabam por convencer-se de sua própria incapacidade. p. 61
[...] os oprimidos são emocionalmente dependentes. p. 61
Alcançar o estado de “ser-para-si-mesmos” representa para as sociedades subdesenvolvidas o que eu chamo a possibilidade “não-experimentada”. p. 62
[...] a modernização traz consigo “a invasão cultural” que deforma o ser da sociedade invadida, a qual é considerada uma caricatura de si mesma. p. 63
[...] Há um momento de surpresa nas massas quando começam a ver o que antes não viam, há uma surpresa correspondente nas elites quando começam a sentir-se desmascaradas pelas massas. Este dupla revelação provoca inquietudes em todos. As massas sentem desejos de liberdade, de superar o silêncio que sempre permaneceram. A elite deseja manter a posição, permitindo só transformações superficiais para impedir a mudança do domínio em seu poder. p. 69
[...] As artes deixam de ser vista como expressão da vida fácil da burguesia rica e começam a encontrar inspiração na vida do povo. Os poetas descrevem seus amores e não falam mais do trabalhador do campo como de um conceito abstrato e metafísico, mas como um homem que vive uma vida concreta. p. 69.
PONTO DE VISTA
Um humanista de cultura pedagógica inovadora, criador de uma pedagogia crítica considerada perigosa. Implantou uma pedagogia baseada nos aspectos mais urgentes da realidade, atuando na luta por uma nova ordem social, uma nova realidade a ser vivida por povos merecedores. O ensino propicia idéias de mudança social e busca o não conformismo, a não comodidade, dirigida aos que não querem passar servilmente pela vida, que vêem o futuro do homem, que se importam com a consciência contínua da memória individual e coletiva.
A "cultura do silêncio", apontada ele, própria da imensa maioria dos camponeses analfabetos das áreas pobres do Brasil, contribuiu para desenvolver uma filosofia e um método para encontrar o sentido, a natureza, os propósitos e as identidades entre os oprimidos. É a vital e necessária unidade para a libertação, parte importante de sua teoria dialógica (Freire, 1972b).
Considera que os líderes devem buscar a unidade entre os oprimidos e a unidade entre os líderes e oprimidos para conseguir a libertação.
A Educação "bancária" mostra a perniciosa relação professor (depositante) - aluno (depósito) de conhecimentos, revela este papel como instrumento de dominação e desenvolve seu oposto: a educação que desafia pensar corretamente e não memorizar, que propicia o diálogo comunicativo e problematiza dialeticamente o educando e o educador. A educação bancária é um instrumento de opressão e não busca a libertação. O educador deve problematizar o conteúdo e não entregá-lo feito, acabado, terminado.
Na invasão cultural se impõem sistemas de valores através de relações autoritárias, nas quais os invasores agem e os outros têm a ilusão de que agem, acreditam agir, mas somente respondem passivamente à manipulação daquele que invade. (Freire, 1972a).
"Manipulação e conquista, expressões da invasão cultural e, ao mesmo tempo, instrumentos para mantê-la, não são caminhos de libertação, mas domesticação" (Freire, 1973, p.46).
O humanismo não pode aceitar a manipulação e a conquista. O caminho é o diálogo sem invadir, manipular ou impor. Transformar a realidade pelo diálogo (...) e, transformando-o, o humanizam para todos" (Freire, 1973, p.46). Oferecer uma educação libertadora, produzindo a conscientização nos homens que ao agirem, ou se relacionarem, transformam. As conseqüências sócio-políticas, culturais e econômicas no campo educacional, não muito proveitosas para os fins da dominação do povo.
A obra postula transformações sócio-política e culturais importantes que se desenvolvem a partir de uma tomada de consciência da realidade.
Metodologia:
-Investigação – busca conjunta entre professor e aluno de palavras e temas significativos da vida do aluno, dentro do vocabulário na lugar em que ele vive.
-Tematização – momento da tomada de consciência do mundo, através dos significados sociais dos temas e palavras.
-Problematização – etapa em que o professor desafia e inspira o aluno a superar a visão mágica e acrítica do mundo, para uma postura conscientizada.
-Dentro da realidade em que o aluno esta inserido, seu universo vocabular, buscar palavras geradoras e apresenta-las em cartazes com imagens.
-Silabação – cada palavra geradora passa a ser estudada através da divisão silábica. Cada sílaba se desdobra.
-As palavras novas – do desdobramento se forma palavras novas.
-Assim, alfabetizar um adulto é promover a conscientização, compreensão e conhecimento da realidade social, e não apenas um processo de codificação e decodificação.
A Escola Cidadã é a que se assume como um centro de direitos e de deveres (...) que viabiliza a cidadania de quem está nela e de quem vem a ela (...) que se exercita na construção da cidadania de quem usa o seu espaço, coerente com a liberdade, com o discurso formador, libertador. (...) que, brigando luta para que os educandos-educadores também sejam eles mesmos. E, como ninguém pode ser só, é uma escola de comunidade, de companheirismo (...) de produção comum do saber e da liberdade (...) que não pode ser jamais licenciosa nem jamais autoritária. É uma escola que vive a experiência tensa da democracia (GADOTTI e ROMÃO, 1997: Quarta capa)
A Leitura do Mundo educa para ver além das carteiras, educando a sensibilidade, a curiosidade, as emoções, a intuição. A formação docente não pode ser alheia a promoção da curiosidade, reconhecendo o valor das emoções, sensibilidade, afetividade ou intuição. O importante é não darmos por satisfeitos, mas submeter tudo a análise metódica e rigorosa de nossa curiosidade. (FREIRE, 1997:51).
A prática político-pedagógica dos educadores ocorre numa sociedade desafiada pela globalização da economia, pela fome, pela pobreza, pela tradição, a modernidade, o autoritarismo, a democracia, a violência, a impunidade, o cinismo, a apatia, desesperança e também pela esperança.

CONSIDERAÇÔES
O estudo é um processo pelo qual a pessoa chega à sua consciência, ao seu processo de tomada de consciência da realidade. O método de Paulo Freire, é um procedimento didático-pedagógico para ensinar o indivíduo o conhecimento da realidade. Daí a palavra: “conscientização”.
As idéias fazem parte importante de uma mudança social. Dirige-se aqueles que vêem o futuro do homem. As reflexões sobre a "Cultura do silêncio" contribuem para desenvolver uma filosofia e um método para encontrar o sentido, a natureza, os propósitos e a identidade entre os oprimidos.
Sua idéia cria e defende uma pedagogia crítica, que postula transformações culturais importantes em função da liberdade dos povos oprimidos.
Cabe a nos educadores refletir sobre essas expectativas reformulando e adaptando ao contexto da nossa comunidade escolar. A modernidade e a fragmentação social são vetores que constituem uma das nossas problemáticas atuais. As afirmações feitas no livro fazem acreditar que para compreender a teoria humanista é necessariamente obrigatório acreditar e amar o homem.

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